quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sempre vivo




Quero que me despojeis,

contanto que me deixeis

Os olhos para vos ver.

Acha a tenra mocidade

Prazeres acomodados,

E logo a maior idade

Já sente por pouquidade

Aqueles gostos passados.

Um gosto que hoje se alcança,

Amanhã já não o vejo;

Assim nos traz a mudança

De esperança em esperança

E de desejo em desejo.

Mas em vida tão escassa

Que esperança será forte?

Fraqueza da humana sorte,

Que quanto da vida passa

Está receitando a morte!

Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdadeDa alma e de quanto tiver


Quero que me despojeis,

contanto que me deixeis

Os olhos para vos ver.
Acha a tenra mocidade

Prazeres acomodados,

E logo a maior idade

Já sente por pouquidade

Aqueles gostos passados.

Um gosto que hoje se alcança,

Amanhã já não o vejo;

Assim nos traz a mudança

De esperança em esperança

E de desejo em desejo.

Mas em vida tão escassa

Que esperança será forte?

Fraqueza da humana sorte,

Que quanto da vida passa

Está receitando a morte!

Amor é um fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que ganha em se perder.



É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence o vencedor;

É ter cquem nos mata lealdade
 
Luís Vaz de Camões

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